24 de agosto de 2011

"Sobre família" - uma receita pra quem ama!

Como não se emocionar com um texto tão simples e lindo? Recebi hoje por e-mail e resolvi compartilhar aqui. Aproveitem!




"O Arroz de Palma" - FAMÍLIA
Por
Francisco Azevedo



Família é prato difícil de preparar. São
muitos ingredientes. Reunir todos é um problema, principalmente no Natal e no
Ano Novo.
Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige
coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um.
Os truques, os
segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir.
Preferimos o
desconforto do estômago vazio.
Vêm a preguiça, a conhecida falta de
imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida, (azeitona verde
no palito) sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O
tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares.
Súbito, feito
milagre, a família está servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas.
Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade.
Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo.
Este é o
mais gordo, generoso, farto, abundante.
Aquele o que surpreendeu e foi morar
longe.
Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente. E você? É,
você mesmo, que me lê os pensamentos e veio aqui me fazer companhia. Como saiu
no álbum de retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental? A mais
prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho? Seja quem for, não fique aí
reclamando do gênero e do grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e
antipatias que fazem parte da sua vida.Não há pressa. Eu espero. Já estão aí?
Todas? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome
alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não
se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De
alegria, de raiva ou de tristeza.Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o
sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que
quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar
tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.Atenção também com
os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto, é um
verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser
muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser
profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber
meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de
toda a família, só porque meteu a colher na hora errada. O pior é que ainda tem
gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não
existe “Família à Oswaldo Aranha”, “ Família à Rossini”, Família à “Belle
Meunière” ou “Família ao Molho Pardo” em que o sangue é
fundamental para o preparo da iguaria. Família é afinidade, é “à Moda
da Casa”. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.Há famílias doces.
Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de
nada, seriam assim um tipo de “Família Diet”,que você suporta só para manter a
linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente,
quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.Enfim,
receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos,
improvisando e transmitindo o que sabe no dia- a -dia. A gente cata um registro
ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel.
Muita coisa se perde na lembrança, principalmente na cabeça de um velho já meio
caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem
graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem
que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para
etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça,
no alumínio ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando
se acaba, nunca mais se repete.


"Se tivéssemos consciência do quanto nossa vida é
passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de jogar fora as oportunidades
que temos de ser e de fazer os outros felizes"

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